sábado, 3 de março de 2012
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Políticas Culturais - cenas dos próximos desafios
Pensando no cenário de desenvolvimento econômico projetado para as próximas décadas no Brasil, e refletindo sobre o papel das políticas culturais no recente contexto histórico, é possível vislumbrar desafios que pautam avanços estruturadores para o setor.
Com a redemocratização, os reflexos que fortalecem e reorganizam as expressões culturais, projetam a partir de 1986, o conceito de políticas públicas para cultura com ênfase nos modelos de mecenato e renúncia fiscal. Apesar de alguns efeitos perversos da subvenção, seu foco principal é definido a partir do estímulo à produção do bem cultural. No âmbito da difusão e distribuição, também é possível identificar, investimentos em novos equipamentos culturais, com aportes públicos e privados para recuperação e abertura de espaços.
Mas agora, emergem outras demandas igualmente relevantes para o desenvolvimento da atividade cultural e sua sustentabilidade. Inicialmente, o desafio de garantir a manutenção continuada dos ativos culturais, com a infra-estrutura que garanta a qualidade da difusão e da prestação de serviços. Numa frente paralela, os desafios no campo da formação e da profissionalização se impõem, especialmente, por sua transversalidade ao universo da cultura. São demandas fundamentais, presentes desde os arranjos produtivos e distribuição até a fruição.
Nenhum setor produtivo se desenvolve plenamente, sem investimentos na formação profissional, sobretudo o setor cultural, cujo elevado capital humano contribui para que as atividades culturais se firmem com significativo percentual de participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Segundo pesquisa da Fundação João Pinheiro realizada em 1998, o setor cultural movimenta quase 3 bilhões de Reais/ano, valor que representa 0,8% da produção de riquezas no país.
Por sua abrangência, e considerando os investimentos estruturadores em curso no país, é urgente também, ampliar a capacidade instalada da produção cultural. Há que se pesquisar sistematicamente, planejar e definir indicadores de avaliação. Além de democratizar ainda mais o acesso, e incluir o cidadão comum nessa construção coletiva.
A definição de lastros qualitativos para o setor cultural devem se traduzir na educação de qualidade; na elevação do bem-estar e melhoria da saúde coletiva; na segurança pública, e em outras tantas externalidades positivas para a sociedade. Quanto mais clara for a percepção do papel estratégico da Cultura no desenvolvimento do país, mais obstáculos estruturais devem ser superados.
Um dos principais estrangulamentos passa por uma formação cultural abrangente. Não basta formar praticantes nas diversas cadeias criativas, mas antes, cativar e cultivar apreciadores de bens culturais. Se há demanda por conhecimento, certamente, haverá campo para uma oferta generosa de produção.
O ambiente virtuoso, que inicia com a formação específica de gestores, pesquisadores, produtores, artistas e técnicos da cadeia produtiva, deve contribuir para um ciclo de desejável sustentabilidade nas próximas décadas. São os desafios do presente traduzidos na construção de uma sociedade que se reconhece por seus laços culturais.
Palhaços - O Reverso do Espelho
Solidão, traição, dor, medo, revelação, magia, luta, revolta, confronto, ilusão. São alguns elementos que buscam traduzir conflitos existenciais expostos na intensa dramaturgia do paulista Timochenco Wehbi. PALHAÇOS, escrito em 1970, em pleno regime autoritário, pode remeter inicialmente a uma ideia consensual sobre a ingenuidade lúdica inerente aos personagens de um circo saudosista. Pura armadilha semântica. É, por outro lado, a busca por respostas submersas pela obviedade, pelo censo comum, pelo que é pejorativo; conforme afirma o autor: “A tese é simples: eu que sou palhaço de Circo, tenho consciência da minha situação. Você é palhaço de todo mundo, a toda hora, em qualquer lugar, justamente por isso não tem consciência da situação.” A narrativa proposta por Wehbi revela para além de um rigoroso encadeamento de conflitos, uma cara sofisticação dramática: através de argumentos que por um lado, cativam paulatinamente, mas que tem a capacidade de arrebatamento súbito. São, de início, atributos desejáveis ao fazer teatral em sua plenitude.
Espaço, tempo e ação aparentemente simples. O camarim de um velho e pequeno circo. No intervalo entre duas sessões. Duas pessoas em conflitos: um palhaço cheio de nuances, submerso em sua intimidade. Um visitante-espectador, um homem limitado ao círculo que sua formação o inscreveu. Tal simplicidade formal dos elementos dramáticos evidencia expressiva densidade psicológica dos arquétipos propostos: personas do mundo, de todos os tempos, numa exposição crua da condição humana. Da reflexão sobre o a formação dos indivíduos, das relações familiares e afetivas. Sobre o papel social da arte, do artista, do ator, do palhaço hoje. Questões tão massacradas quanto atuais.
Definidos os pontos de partida, a proposta de encenação deve, inicialmente, perseguir a desconstrução do óbvio, mas sem hermetismos, centralizado numa interpretação consciente, contida, mas enfática e verossímil. O espaço de encenação em formato triangular deve contribuir para um confortável equilíbrio sinérgico dos atores. Uma cena limpa: com suporte para roupas, um baú misterioso e um banco são os únicos elementos dispostos. Sua ambiência deve extrapolar os limites físicos de um camarim de circo. Deve, antes, agregar os limites de um universo onírico, como se fosse a própria consciência do palhaço. Com fusão de imagens desfocadas, silhuetas, sombras, transparências, pensamentos, projeções.
Cores sombrias e sóbrias, envelhecidas pelo tempo. Um palhaço em vestes negras contrastando com um visitante colorido pelas convenções sociais. Um palhaço despenteado, com maquiagem disforme, borrada e suja em contraposição a um homem de gravata, arrumado e limpo. A musicalidade deve agregar e realçar os climas e conflitos com discurso sonoro próprio, sem ornamentos, mas rigorosamente presente nas unidades de ação. Com linguagem própria, a partir de registros sonoros universais, e releituras de clássicos e musicais circenses de domínio público.
O que esperar de PALHAÇOS? Talvez uma história possível em meio a tantas impossibilidades as quais somos impingidos quotidianamente. Talvez refletir sobre as escolhas que não fazemos ou pensar em quem, afinal, é o palhaço da história.
Com Sóstenes Vidal e Williams SantAnna
Direção Célio Pontes
Dramart Produções
PRÓXIMA APRESENTAÇÃO:
Festival Janeiro de Grandes Espetáculos 2012. Recife, PE. Aguarde.
Economia do Teatro
Lançando o olhar na saga do desenvolvimento humano, é possível perceber que a experiência da apreciação estética assume contornos variados, especialmente nos fenômenos relacionados ao binômio: arte e consumo. Nos domínios cênicos, um passeio histórico mostra como o Teatro se modifica à medida que a sociedade se transforma, quando capta e difunde nuances do convívio público nas diferentes esferas sociais. Atualmente o esvaziamento de platéias, nos leva a pensar o Teatro com foco na audiência: a platéia como agente indispensável à representação, cuja origem remonta ao termo grego théatron: lugar onde se assiste a um espetáculo.
O fenômeno da evasão, que ocorre em todo o mundo, é percebido com mais intensidade na cena pernambucana. Ao longo das três últimas décadas um crescente afastamento do público das casas de espetáculos é percebido pela comunidade teatral do Recife, que já foi reconhecida como o terceiro pólo de produção do país.
No âmbito nacional é evidente que as limitações da educação formal associado ao agravamento da violência urbana constitui um cenário impróprio para o convívio social. Há um desencantamento generalizado que contribui, por exemplo, para não se ir ao teatro num domingo à noite. Nesse caso outras opções de entretenimento como a televisão ou home vídeos, parecem substituir a apreciação de espetáculos. Tal relação se expressa na pesquisa de indicadores culturais realizado pelo IBGE em 2003, quando mostra que ir ao teatro compromete 0,5% do orçamento familiar, enquanto o aluguel de filmes em DVD 1,6%.
A escassez de fontes de pesquisa e referências bibliográficas determinou a necessidade de levantamentos primários nos dados contábeis de quatro teatros do Recife. É exatamente nos teatros Barreto Júnior, Parque, Santa Isabel e Valdemar de Oliveira que se concentra expressiva parte da produção local. A delimitação do universo da pesquisa bem como a base de dados coletada define com precisão a amostragem proposta no presente estudo.
Interessados pelo assunto, podem solicitar a pesquisa na íntegra pelo e-mail: universopontes@gmail.com.
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