Solidão, traição, dor, medo, revelação, magia, luta, revolta, confronto, ilusão. São alguns elementos que buscam traduzir conflitos existenciais expostos na intensa dramaturgia do paulista Timochenco Wehbi. PALHAÇOS, escrito em 1970, em pleno regime autoritário, pode remeter inicialmente a uma ideia consensual sobre a ingenuidade lúdica inerente aos personagens de um circo saudosista. Pura armadilha semântica. É, por outro lado, a busca por respostas submersas pela obviedade, pelo censo comum, pelo que é pejorativo; conforme afirma o autor: “A tese é simples: eu que sou palhaço de Circo, tenho consciência da minha situação. Você é palhaço de todo mundo, a toda hora, em qualquer lugar, justamente por isso não tem consciência da situação.” A narrativa proposta por Wehbi revela para além de um rigoroso encadeamento de conflitos, uma cara sofisticação dramática: através de argumentos que por um lado, cativam paulatinamente, mas que tem a capacidade de arrebatamento súbito. São, de início, atributos desejáveis ao fazer teatral em sua plenitude.
Espaço, tempo e ação aparentemente simples. O camarim de um velho e pequeno circo. No intervalo entre duas sessões. Duas pessoas em conflitos: um palhaço cheio de nuances, submerso em sua intimidade. Um visitante-espectador, um homem limitado ao círculo que sua formação o inscreveu. Tal simplicidade formal dos elementos dramáticos evidencia expressiva densidade psicológica dos arquétipos propostos: personas do mundo, de todos os tempos, numa exposição crua da condição humana. Da reflexão sobre o a formação dos indivíduos, das relações familiares e afetivas. Sobre o papel social da arte, do artista, do ator, do palhaço hoje. Questões tão massacradas quanto atuais.
Definidos os pontos de partida, a proposta de encenação deve, inicialmente, perseguir a desconstrução do óbvio, mas sem hermetismos, centralizado numa interpretação consciente, contida, mas enfática e verossímil. O espaço de encenação em formato triangular deve contribuir para um confortável equilíbrio sinérgico dos atores. Uma cena limpa: com suporte para roupas, um baú misterioso e um banco são os únicos elementos dispostos. Sua ambiência deve extrapolar os limites físicos de um camarim de circo. Deve, antes, agregar os limites de um universo onírico, como se fosse a própria consciência do palhaço. Com fusão de imagens desfocadas, silhuetas, sombras, transparências, pensamentos, projeções.
Cores sombrias e sóbrias, envelhecidas pelo tempo. Um palhaço em vestes negras contrastando com um visitante colorido pelas convenções sociais. Um palhaço despenteado, com maquiagem disforme, borrada e suja em contraposição a um homem de gravata, arrumado e limpo. A musicalidade deve agregar e realçar os climas e conflitos com discurso sonoro próprio, sem ornamentos, mas rigorosamente presente nas unidades de ação. Com linguagem própria, a partir de registros sonoros universais, e releituras de clássicos e musicais circenses de domínio público.
O que esperar de PALHAÇOS? Talvez uma história possível em meio a tantas impossibilidades as quais somos impingidos quotidianamente. Talvez refletir sobre as escolhas que não fazemos ou pensar em quem, afinal, é o palhaço da história.
Com Sóstenes Vidal e Williams SantAnna
Direção Célio Pontes
Dramart Produções
PRÓXIMA APRESENTAÇÃO:
Festival Janeiro de Grandes Espetáculos 2012. Recife, PE. Aguarde.
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