quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Palhaços - O Reverso do Espelho


Solidão, traição, dor, medo, revelação, magia, luta, revolta, confronto, ilusão. São alguns elementos que buscam traduzir conflitos existenciais expostos na intensa dramaturgia do paulista Timochenco Wehbi. PALHAÇOS, escrito em 1970, em pleno regime autoritário, pode remeter inicialmente a uma ideia consensual sobre a ingenuidade lúdica inerente aos personagens de um circo saudosista. Pura armadilha semântica. É, por outro lado, a busca por respostas submersas pela obviedade, pelo censo comum, pelo que é pejorativo; conforme afirma o autor: “A tese é simples: eu que sou palhaço de Circo, tenho consciência da minha situação. Você é palhaço de todo mundo, a toda hora, em qualquer lugar, justamente por isso não tem consciência da situação.” A narrativa proposta por Wehbi revela para além de um rigoroso encadeamento de conflitos, uma cara sofisticação dramática: através de argumentos que por um lado, cativam paulatinamente, mas que tem a capacidade de arrebatamento súbito. São, de início, atributos desejáveis ao fazer teatral em sua plenitude.
Espaço, tempo e ação aparentemente simples. O camarim de um velho e pequeno circo. No intervalo entre duas sessões. Duas pessoas em conflitos: um palhaço cheio de nuances, submerso em sua intimidade. Um visitante-espectador, um homem limitado ao círculo que sua formação o inscreveu. Tal simplicidade formal dos elementos dramáticos evidencia expressiva densidade psicológica dos arquétipos propostos: personas do mundo, de todos os tempos, numa exposição crua da condição humana. Da reflexão sobre o a formação dos indivíduos, das relações familiares e afetivas. Sobre o papel social da arte, do artista, do ator, do palhaço hoje. Questões tão massacradas quanto atuais.
Definidos os pontos de partida, a proposta de encenação deve, inicialmente, perseguir a desconstrução do óbvio, mas sem hermetismos, centralizado numa interpretação consciente, contida, mas enfática e verossímil. O espaço de encenação em formato triangular deve contribuir para um confortável equilíbrio sinérgico dos atores. Uma cena limpa: com suporte para roupas, um baú misterioso e um banco são os únicos elementos dispostos. Sua ambiência deve extrapolar os limites físicos de um camarim de circo. Deve, antes, agregar os limites de um universo onírico, como se fosse a própria consciência do palhaço. Com fusão de imagens desfocadas, silhuetas, sombras, transparências, pensamentos, projeções. 
Cores sombrias e sóbrias, envelhecidas pelo tempo. Um palhaço em vestes negras contrastando com um visitante colorido pelas convenções sociais. Um palhaço despenteado, com maquiagem disforme, borrada e suja em contraposição a um homem de gravata, arrumado e limpo. A musicalidade deve agregar e realçar os climas e conflitos com discurso sonoro próprio, sem ornamentos, mas rigorosamente presente nas unidades de ação. Com linguagem própria, a partir de registros sonoros universais, e releituras de clássicos e musicais circenses de domínio público.
O que esperar de PALHAÇOS? Talvez uma história possível em meio a tantas impossibilidades as quais somos impingidos quotidianamente. Talvez refletir sobre as escolhas que não fazemos ou pensar em quem, afinal, é o palhaço da história.

Com Sóstenes Vidal e Williams SantAnna
Direção Célio Pontes
Dramart Produções

PRÓXIMA APRESENTAÇÃO:
Festival Janeiro de Grandes Espetáculos 2012. Recife, PE. Aguarde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário