Pensando no cenário de desenvolvimento econômico projetado para as próximas décadas no Brasil, e refletindo sobre o papel das políticas culturais no recente contexto histórico, é possível vislumbrar desafios que pautam avanços estruturadores para o setor.
Com a redemocratização, os reflexos que fortalecem e reorganizam as expressões culturais, projetam a partir de 1986, o conceito de políticas públicas para cultura com ênfase nos modelos de mecenato e renúncia fiscal. Apesar de alguns efeitos perversos da subvenção, seu foco principal é definido a partir do estímulo à produção do bem cultural. No âmbito da difusão e distribuição, também é possível identificar, investimentos em novos equipamentos culturais, com aportes públicos e privados para recuperação e abertura de espaços.
Mas agora, emergem outras demandas igualmente relevantes para o desenvolvimento da atividade cultural e sua sustentabilidade. Inicialmente, o desafio de garantir a manutenção continuada dos ativos culturais, com a infra-estrutura que garanta a qualidade da difusão e da prestação de serviços. Numa frente paralela, os desafios no campo da formação e da profissionalização se impõem, especialmente, por sua transversalidade ao universo da cultura. São demandas fundamentais, presentes desde os arranjos produtivos e distribuição até a fruição.
Nenhum setor produtivo se desenvolve plenamente, sem investimentos na formação profissional, sobretudo o setor cultural, cujo elevado capital humano contribui para que as atividades culturais se firmem com significativo percentual de participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Segundo pesquisa da Fundação João Pinheiro realizada em 1998, o setor cultural movimenta quase 3 bilhões de Reais/ano, valor que representa 0,8% da produção de riquezas no país.
Por sua abrangência, e considerando os investimentos estruturadores em curso no país, é urgente também, ampliar a capacidade instalada da produção cultural. Há que se pesquisar sistematicamente, planejar e definir indicadores de avaliação. Além de democratizar ainda mais o acesso, e incluir o cidadão comum nessa construção coletiva.
A definição de lastros qualitativos para o setor cultural devem se traduzir na educação de qualidade; na elevação do bem-estar e melhoria da saúde coletiva; na segurança pública, e em outras tantas externalidades positivas para a sociedade. Quanto mais clara for a percepção do papel estratégico da Cultura no desenvolvimento do país, mais obstáculos estruturais devem ser superados.
Um dos principais estrangulamentos passa por uma formação cultural abrangente. Não basta formar praticantes nas diversas cadeias criativas, mas antes, cativar e cultivar apreciadores de bens culturais. Se há demanda por conhecimento, certamente, haverá campo para uma oferta generosa de produção.
O ambiente virtuoso, que inicia com a formação específica de gestores, pesquisadores, produtores, artistas e técnicos da cadeia produtiva, deve contribuir para um ciclo de desejável sustentabilidade nas próximas décadas. São os desafios do presente traduzidos na construção de uma sociedade que se reconhece por seus laços culturais.